CASA, COMIDA & ROUPA LAVADA (RC)

“Só se decepciona quem se ilude”. Esta terrível frase foi-me dita quando eu tinha cerca de 17 anos e era ainda uma estagiária da Caixa Economica Federal (CEF), por um colega-superior, bem mais velho, em frente a Cantão (loja famosa e antiga, de moda-jovem do Rio de Janeiro). Por que dou tantos detalhes? Jaustamente porque ela, a frase, foi impactante e eu gravei para sempre. Guardei-a ainda menina (pode-se dizer assim) na minha mente. Qual o contexto que ela foi dita? Não lembro e sequer importa! O fato é que sempre quando penso que decepcionei-me com algo ou alguém, logo me vem a mente “você se iludiu...”

Pois bem, até semana passada eu tinha uma amiga de infância. Nunca me iludi com ela, e portanto hoje escrevo sobre o acontecido, mas sem decepção.

Não me decepcionei quando recebi dela um email totalmente equivocado “quebrando” nossa relação. Bem... a relação era minha, pois a amizade era minha. Era algo que “eu” tentava (em vão) manter a despeito do tempo e da distância. Era uma amizade de “via única” e amizades são uma “mão dupla”... portanto, era uma meia-amizade para ser mais exata.

Mais ou menos há vinte anos atrás (vocês estão proibidos de fazer contas, já disso isso antes!!!), também perdi uma amizade que parecia promissora. Mas foi diferente: a mulher (minha amiga) desconfiada de traição do marido (também meu amigo, que trabalhava no mesmo lugar que eu) resolveu “jogar vverde” como se diz por ai, e disse-lhe que “euzinha” havia lhe contado “tudo” sobre “a amante”! E eu??? Que nem sabia que ele tinha outtra!!!??? Vi de um dia para o outro a amizade terminar e só soube do motivo uns dez anos depois! Pode? Eu só tinha sido o instrumento tolo daquelo tudo... mas isso é uma outra história!

Voltando ao caso.

Aliás a outro caso.

Tenho uma outra amiga, que deixei no Brasil, que ainda me faz chorar quando me lembro do momento exato da nossa despedida, quando nos abraçamos fortemente, ela igualmente emocionada, jurou-me tantos sentimentos sem nada dizer naquele abraço! Eu os ouvi! Juro!

Sua filha, melhor amiga de minha filha de 6 anos. Isso me dava um tremendo orgulho. Um orgulho da minha filha sabber fazer (na minha opinião) boas escolhas. E aquela era (na minha opinião) um ótima escolha de amizade. Gostava demais – e ainda gosto por demais – de mãe e filha.

Eu vim para cá, do outro lado do Globo, mandei-lhe emails, telefonei, cheguei a recorrer a um pequeno bilhete endereçado ao Brasil... e nada. Nunca me respondeu. Não sei se lê este Blog... se um dia saberá dessas letras... Na verdade o "quase nada" que escreveu-me foram em formas monossilábicas e lacônicas.

Não entendo.

Voltando a minha amiga de infância, seu sonho é casar-se e ter uma familia (isso impõe “filhos”). Mas ela parece não compreender que o custo disso pode ser demasido caro: pode custar-lhe a felicidade.

Por que digo isso? Porque casar e ter filhos ainda é a grande cobrança (hipócrita) feita às mulheres tanto da Sociedade, quanto delas mesmas. E uma determinada escolha só para "não ficar para titia" pode significar ser infeliz no casamento.

Conheço uma moça que prefere dizer-se divorciada, a “confessar” sua solteirice! Ora essa!

Antigamente quando se dizia “TER CASA, COMIDA & ROUPA LAVADA”, era o mesmo que dizer “CASAR-SE”. Mas hoje pode ser diferente: homens e mulheres podem ter seu próprio canto, ter vida independente e se realizarem com isso. Há também enorme número de jovens-adultos, atualmente, que não saem da casa de seus pais. Têm mais de 30 anos, namoram, trabalham com renda financeira própria, mas não deixam a casa dos pais. E isso, simplesmente isso, não os desmerece. Por que assim escolhem viver? Infinitas razões, inclusive ter “casa, comida & roupa lavada”!

O tema é complexo, já falei demais, e fiquei com preguiça de discutir isso agora! Perdões!

A minha antiga amiga, pois, que sonha com “casa, comida & roupa lavada” não percebe que isso tudo ela já tem; que pode optar, eventualmente, com quem vai dividir tais direitos e obrigações (digamos assim), mas que não precisa fazê-lo por uma convenção, a despeito de arriscar o pouco de felicidade que ainda pode haver na sua vida – pois uma má escolha (não necessariamente "do" homem, mas até mesmo do "novo estilo de vida") pode arruiná-la para sempre.

Qual o "Resumo da Ópera"?

1- ter "casa, comida & roupa lavada" não é mais sinonimo absoluto de "casar" e também não é garantia de sucesso e felicidade, por si só;
2- o primeiro amor (lato sensu) é para sempre;
3- espero que minha filha não  se decepcione e não viva, prematuramente, o rompimento de uma amizade de infância e, independentemente do tempo que vamos ficar aqui, desejo que quando a gente volte, ela esteja lá, no mesmo lugar onde a abraçamos tão fortemente.

(RC)