NÃO QUERO MAIS "COISAS QUE EU NÃO QUERO ESQUECER" (RC)

Hoje escrevo sobre o poder insuportável da TPM. Perdoem-me por isso.
Outro dia lhes contei acerca do meu caderninho de anotações. OK. Na verdade tenho um outro, um tanto secreto, um tanto guardado no fundo da gaveta (ai, Dra. Amiga!), literalmente. Intitulei-o “Coisas Que Não Quero Esquecer”. Há ali descrito coisas boas e ruins. Claro que eu não quero esquecer o primeiro dia que conheci meu marido e as circunstancias da paquera. Claro que nao quero esquecer o dia em que nasceram os meus tres filhos; ou daquele dia, eu, sentada no batente da porta de casa, com minha irmã, aos cinco anos mais ou menos prometendo-nos nunca mais brigarmos… Mas gostaria de esquecer o dia que meu marido (ainda no comecinho do namoro) gritou e berrou com o nossa amada cã (leia-se “cadela”), só porque ela tinha feito xixi num tapete… foi um escandalo descomensurado e demasiado para – na minha opinião – tão pouco. Aquele momento foi crucial para as nossas vidas. Eu te garanto. Naquele dia eu dei-lhe a SEGUNDA CHANCE sobre a qual já falei e da qual já fui beneficiária e por isso nunca nego a ninguém (tá, não me venham com extremos, para ouvir que “Há exceções”, pois há). Se não o tivesse feito, não estaria agora, escrevendo tudo isso, daqui da Thailandia, com um linda familia.

Mas eu falava sobre o caderninho…

Esta semana recebi um email de uma amiga (desses que a gente põe para circular com dicas sobre a vida e com conselhos…), que retransmitia escritos de uma senhora de 90 anos. Após lê-lo percebi que o meu caderninho não fazia sentido, que eu não queria mais “Coisas Que Eu Não Quero Esquecer”. Vou queimá-lo assim que sair daqui. Porque quero esquecer tudo. Até as coisas boas, se preciso for, para que não me influenciem em decisões futuras.

Também nessa semana uma outra amiga - esta ainda no campo virtual do Face, da Farm... (Obrigada, Amiga)– lembrou-me acerca de uma frase emblemática: CARPE DIEM ! E sabem? Tenho a frase colada (imagino que ainda esteja la ) na parede do meu escritorio, do meu "ap" de São Paulo.
E tudo se combina e se coaduna.

Meu pai este mes faria 91 anos (não façam contas: ele foi pai já velho! rsrsrsr!).  Talvez por isto esteja tao abaladda quanto estou, repenssando minha relacao com meus filhos, se eles terao boas recordacoes de mim quando eu chegar os meus 91… o que eles terao para lembrar, essas coisas.
Lembro-me do meu pai gordo, forte, de mão pesada, inteligente por demais, - a despeito da escola inacabada -, orador e comunicador, nas festas sempre com meus primos mais velhos o rodeando, "importante". Contam que, um dia - minha Prima pode se lembrar - nós duas (pequenas gurias) "brigamos" assim: "meu pai é o melhor", "não, o meu é", "o meu tem isto", "o meu tem aquilo", etc. E - contam - que eu para finalizar a discussão gritei: "Mas o meu é dono do mundo"! Lembra-se disso, Prima? Pois bem, essa é a MINHA LEMBRANCA DELE. Não preciso dizer que ela não corresponde com a lembranca que minha mae tem dele, por exemplo, mas isso pouco importa pra mim. EU tenho boas lembranças dele.
Lembro-me exatamente do dia que me ensinou a andar de bike sem rodinhas, me segurando pelo cangote; ou quando ensinava-me matematica, e eu ficava encantada como ele fazia bem as contas de cabeça. Lembro-me quando ele colocava um terno e ate um smoking para ir as festas com minha mae  e eu o achava lindo (ela também ficava muito bonita)!
Lembro-me ainda que quando morreu, deixei-lhe a "barba por fazer". Nao tinha feito… naquele dia, sei lá! Pra mim, foi importante, pois restou o registro “na cara dele” que nao sou perfeita. E eu gosto de saber e lembrar que não sou perfeita.

Assim, desse jeito, volto-me a meus filhos, e até ao meu marido, e reforço-lhes que sou falivel de erros e de falhas, mas que os amo imensamente, profundamente e para sempe, como a meu pai.
(RC)

PS.: Assistam o filme ou leiam mais: "Sociedade dos Poetas Mortos", Dead Poets Society

2 comentários

  1. Lembranças. A vida é repleta delas, faz-se através de todos os momentos que passamos, os bons, os ruins e, até mesmo, daqueles que nem mesmo imaginávamos tão marcantes, pois, à época, nos pareciam sem importância alguma, incapazes de deixar registros profundos. Fernanda Giovanini.

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  2. Sim, Fernanda, a vida é feita de momentos vividos, não daqueles que deixamos de fazer, de correr, de rir, de brincar, brigar, amar, etc. Meu caderninho foi queimado porque vi que pouco importava! Que nada era. Só o que havia dentro de mim, ainda lucido, é que contava! Como nossos momentos, estão ali: nas minhas lembranças, ainda frescas.
    Bjs!

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