(U.M.E.) Como é uma mãe Chinesa?, por Simone C.

"Foi este artigo que mexeu comigo desde de manhã e passei o dia inteiro como ele na cabeça.


Amy Chua, a autora do artigo não se refrem ao afirmar que usa de metodos espartanos na educação de suas duas filhas. Insultos, intimidações seriam coisas comuns nos seu dia-a-dia. Privações e castigos por que as meninas tiraram uma nota não satisfatoria na escola, e voce pensa que um A- (a nota maxima nos EUA é o A+) já não estaria bom ? Claro que não, nada menos do que A+ em todas as materias, exceto Educação Fisica e Interpretação (teatro).

E ai daquela que disser que não quer tocar violino e nem piano mas uma guitarra eletronica. Um insulto sem tamanho para essa mãe, que talvez saisse por ai arrancando os cabelos da pobre menina, um a um. Não imagino o que a mãe diria se encontrasse um pedaço de papel com um numero de telefone escrito as pressas, e com o nome “Phillip” no meio dos livros de piano da filha de 15 anos. Vai fazer o que, “castrar” a propria filha?

Minha familia é parte chinesa desde que me casei (pelo simples fato de que meu marido é descendente direto de chineses) e com isso ganhei uma familia de cunhados, primos, tios e tias, alem de amigos igualmente chineses e seus descendentes. Pensei logo na minha sogra, claro e a geraçāo dela que com certeza se encaixa, com menos estupor talvez, no estereótipo da autora.

A maneira como ela expõe seus metodos deixa muita gente com dores no estomago, inclusive eu. Acho que o que mais me instiga não é nem tanto o metodo mas como essa mãe é capaz de privar as meninas do direto de decidirem seus proprios destinos. Por que teriam de virar modelos guiados pela mãe sem direito a vontades proprias, direito de exprimir seus proprios valores e vocações? E se a menina tivesse mesmo vocação para cantora de rock ou se tiver extrema paixão por animais e querer ser uma veterinária?

Me lembrei de quando tivemos nosso primeiro filho. Ele representa também o primeiro neto e ainda o primeiro filho do primogenito dos meus sogros chineses. Ao nascer, o meu filho ja recebeu a incumbencia direta de ser o herdeiro, um dia, o lider da geração dentro da mesma linha genealógica. Meu bebe, que nem pesava 4 Kg já recebeu esta carga enorme nas costas. E foi numa conversa não muitos dias depois que minha sogra chinesa mencionou, talvez num sonho acordado, qual universidade ele iria nos EUA, o neto que so tinha dias de vida ! O que se passava naquela cabeça dela naquele momento, não tenho a minina ideia. Será que ela já estaria pensando onde fazer doações anuais para garantir uma vaga no futuro ? (É comum nos EUA doações a instituições acadêmicas para aumentar o seu prestigio na hora da criança procurar vaga na escola).

Para mim soou mais que um insulto a uma mãe desesperada, ainda tentando ajustar-me a vida de mãe, com poucos intervalos entre os aleitamentos, me restabelecendo das dores e das noites mal dormidas e a sogra ali, balbucinado alusões 20 anos a frente da realidade que viviamos!

Antes que eu respondesse qualquer coisa meu marido falou, “Sei la se ele vai a uma faculdade, deixaremos ele decidir o seu prorpio futuro”. Foi uma resposta coerente, pensei.

Não entendi o que veio depois da boca da minha sogra, só entendi que a resposta do meu marido não a alegrou. Fechou a cara em desolação pelo insulto e respondeu algumas coisas em Chines. Só entendi o conteudo da conversa depois quando meu marido mandou um email com um link para a biografia do Steve Jobs, o fundador da Apple. Ele foi um “drop-out”, nunca foi brilhante academicamente, ao contrario, foi sempre um problema nas escolas. Suas ideias no entanto, fizeram dele o homem mais criativo e inovador do seculo, alguem duvida?

Sim, o que o meu marido queria dizer é que fazer uma faculdade não faz de ninguem uma pessoa mais sucedida que a outra. Meu marido completou para a minha sogra ainda: “Veja, eu terminei minha faculdade em computação numa prestigiada universidade americana e veja onde eu estou agora? Não fundei nenhuma Apple na minha vida”.

Esta afirmação do meu marido foi um insulto aos anos de trabalho do pai que ficou longe da familia para garantir estabilidade financeira para que os 4 filhos tivessem uma educação descente. Como muitos filhos de imigrantes nos EUA, meu marido cresceu praticamente longe do pai que trabalhava na Asia e deixou a esposa com os 4 filhos nos EUA onde os filhos receberiam melhor educaçāo, de acordo com o ideal da epoca. Se essa separaçāo foi certa ou errada ja esta longe para ser julgada.

Esta sim, é a realidade que muitas familias de imigrantes chineses passaram nessa epoca. Uma melhor vida academica iria garantir uma vida mais estavel a todos no futuro.

Para o meu pai, imigrante japones e sem ensino superior, a visão foi mais aberta e talvez por isso cresci sem pressão. Faculdade não seria importante e ele me deu opções na epoca. “Se voce acha que tem algum dote especial, que pode te fazer despontar no futuro, se existe alguma coisa que voce gostaria de fazer com paixão e se dedicar, va em frente, dedique-se, seja com um diploma ou não. Mas prometa-me que nada vai fazer voce desistir de conseguir chegar a essa meta”. “Se voce acha que vai ser uma cidadã normal, talvez se despontando aqui e ali, então por favor tire um diploma pois é isso que vai fazer diferença no futuro”.

E eu decidi que seria uma cidadã normal, sem dotes para transformar a humanidade ou a vida das pessoas, não uma Eistein ou Marie Curie.

Reconheço esse tipo de mãe, a escritora do artigo, e não precisa ser chinesa, pode ser indiana ou japonesa. Umas mais que outras e pelo menos a autora do artigo não releva ter usado de forças fisicas, o que causaria traumas fisicos ainda maiores nas meninas. As sequelas do trauma psicologico causado por essa mãe talvez estejam por vir ou talvez jamais virá aparentemente.

Certo ou errado, minha maneira de educar esta longe de produzir genios e com certeza meus filhos não estarão pisando o palco do Carneggie Hall para tocarem piano e tambem espero, que nem para limpar o chão, mas espero que eles cresçam confiantes em si, com bagagem suficiente para que um dia eles tomem decisões por conta propria. Nosso objetivo agora eh o de lhes proporcionar a mais vasta experiência possivel e um dia eles mesmos vão descobrir os seus proprios destinos.

Não os punirei por tirarem notas baixas na escola, mas os punirei por não cumprirem os deveres ou por deixar coisas mal terminadas. Ouvirão sermões por não terem se dedicado com mais enfase nas tarefas pois mesmo que não fossem os primeiros ou os mais perfeitos, poderiam ter usado o máximo de seus esforços e se sentirem realizados.

Não faço estereotipos e nem generos no tipo de educação dos nossos filhos mas acho que nosso pensamento é partilhado por muitas mães coerentes por ai. E é simplesmente tão obvio que talvez não tenha ninguem que vai sair por ai escrevendo e tentando ganhar publicidade sobre o obvio.

Por outro lado posso ver tambem mães que leram o artigo e agora teem argumentos suficientes para forçar jornadas mais longas de lições de piano para os seus filhos: “Se ela conseguiu tocar aquela partitura com 6 horas de treino por dia meu filho terá agora 8 horas!”. Ou como uma prima não-chinesa casada com um primo chines do meu marido falou da sogra : “Agora ela vai falar, ta vendo, toda criança chinesa passa horas e horas estudando, por que não os meus netos?”. E essa avó, que teve seus dois filhos graduados em Stanford e MIT respectivamente não morrerá feliz se seus netos não graduarem numa universidade de mesmo nivel ou pelo menos superior.

Antes de terminar queria deixar claro que não estou sendo contra as mães chinesas. Uma lição é não polarizar: “mãe chinesa” e “mãe não chinesa” pois todas tem seus pontos positivos e negativos. Hoje eu e minha sogra nos damos bem e vivemos num pacto de ela não impor. Nem sempre nós estamos certos ou não temos a experiência e nesses casos a sabedoria dos Chineses mais velhos ajuda e é bem vinda porque o que todos querem no final das contas é só o melhor para as crianças, não é mesmo?"

Nota (RC): Texto original e transcrito AQUI, diretamente da "TRAVESSIAS (E TRAVESSURAS) EM SIAM". Obrigada por permitir a reproducao aqui, Simone!
Esse mesmo tema/assunto rendeu um outro POST no BLOG MULHER 7x7. Quer ler tambem? E' so' clicar AQUI.

2 comentários

  1. entendo essa historia das maes chinesas! tenho uma amiga chinesa que e' exatamente dessa linha de pensamento. Apesar do filho dela nao ter feito a faculdade nos EUA,do pai estar sempre junto, se formou numa das melhores faculdades do japao, e desde pequeno os pais moviam montanhas pela educacao escolar do filho e alimentacao tambem!!! educaram-no com o conceito de comer fora de casa e' pouco saudavel (ta, nao deixa de ser verdade, ne),faz mal, por isso, mesmo agora,com 24 anos, se vai comer fora com amigos, come um pouco antes de sair, ou come pouco fora e depois come, em casa, a comidinha da mae.
    por isso, quando ela ve os rapazes de mesma idade dele comendo "tranqueiras"na rua, ou mesmo jovens de onde trabalhamos, que nao tem curso univesitario, ou tem mas provavelmente nao vao subir de posto, comenta com um certo desdem.......

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  2. @rosePois e', Rose... a historia do CAMINHO DO MEIO que ensinou BUDA... viver sem extremismos, ne? Bjka!

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