´´Nascido para ser um grande rei ou um mestre espiritual, de acordo com a profecia, Sidarta Gautama optou pela segunda via. Mas foi cheia de espinhos sua longa jornada rumo ao Nirvana.
Aquele que percorre o caminho da iluminação deve se afastar do fogo do desejo assim como o homem que carrega um fardo de palha evita encostar nas chamas." Essa máxima de Sidarta Gautama é a síntese de sua complexa doutrina, o dharma, que visa suprimir o sofrimento extinguindo todo e qualquer desejo. Curiosamente, Buda não ansiava por felicidade (nem terrena nem eterna), mas por ausência de dor. À primeira vista, pode parecer estranho, mas essa sensação desaparece se, viajando de volta ao passado, pousarmos na Índia do século 6 a.C. Foi lá que Sidarta nasceu, em torno de 560 a.C., no Jardim de Lumbini, perto da cidade de Kapilavastu. Era filho do soberano de um dos vários reinos do país, o do clã dos sakyas, que ficava aos pés do Himalaia. A sociedade indiana que acolheu o pequeno príncipe era dividida em castas: brâmanes (os sacerdotes), xátrias (guerreiros e governantes), vaixás (comerciantes e agricultores) e sudras ou párias (os excluídos, privados de direitos sociais e religiosos). Esse sistema extremamente rígido - não havia chance de passar de um grupo para outro - fazia da Índia uma nação onde a desigualdade imperava no seu máximo grau. Embora pertencesse à casta privilegiada dos guerreiros, não admira que Sidarta julgasse a ausência total de dor o bem supremo. A esse estado de paz, dizia ele, chegase por um distanciamento de si mesmo, que é a própria realização da sabedoria. Assim, Buda definiu o Nirvana: Existe uma esfera onde não é terra, nem água, nem fogo, nem ar... Que não é deste mundo nem de outro. Eu nego que seja morte ou nascença. É simplesmente o fim do sofrimento".
Leia sobre O CAMINHO DO MEIO, o ´´dharma´´ NO POST seguinte.
Fonte: Revista Claudia (Edidora Abril)
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Logo depois do nascimento, Sidarta foi levado pelo pai, Shudodhana, e pela mãe, Maya, a um templo para ser apresentado aos sacerdotes. Um velho brâmane chamado Ansita profetizou que, dependendo do caminho escolhido, o menino se tornaria ou um grande rei ou um mestre espiritual. Poucos dias depois da predição, Maya morreu e uma irmã dela passou a cuidar do bebê. O jovem cresceu no meio do luxo. Educado pelos melhores preceptores, adquiriu vasto conhecimento, desenvolvendo inclusive grandes habilidades nas artes marciais. Dividia seu tempo morando em três palácios e estava sempre cercado por lindas garotas, cuja função era distraí-lo. Dessa forma, Shudodhana queria afastá-lo de todo contato com a realidade e evitar que se cumprisse a segunda parte da profecia. Como era praxe, aos 16 anos, ele casou com sua bela prima Yashodhara, com quem teve um filho, Rahula.
Feliz, aparentemente, Sidarta possuía uma natureza introspectiva e gostava de se isolar nos jardins do palácio para meditar. Com o tempo, a introspecção virou inquietude e ele decidiu se aventurar fora dos limites impostos por Shudodhana e misturar-se com seus súditos. Ao deparar com os primeiros três dos "quatro sinais" citados pela tradição budista, o príncipe levou um susto. Inicialmente, encontrou um velho arqueado, cheio de rugas. A seguir, viu um enfermo se contorcendo de dor. Mais tarde, acompanhou um funeral e se condoeu das lágrimas dos parentes. Concluiu que o corolário do nascimento é um tripé sustentado por doença, velhice e morte. O quarto sinal foi uma revelação: cruzou com um asceta errante que vivia de esmolas e irradiava sabedoria e serenidade. A sorte estava lançada. Abandonaria a opulência dos palácios e se afastaria da família para se dedicar a uma vida de sacrifício e contemplação. Aos 29 anos, saía de cena o jovem Gautama e começava a se formar o Sakyamuni, "o santo dos sakyas".
Por seis anos, conviveu com vários mestres, aprimorando seus conhecimentos. Não satisfeito apenas com as rigorosas técnicas de meditação, quis ir além. Dedicou-se, então, à automortificação. Seu desprendimento das coisas terrenas culminou com um jejum tão radical que quase o matou - diz a lenda que se alimentava com um único grão de arroz por dia. Aos poucos, intuiu que as privações o faziam delirar, mas não era o êxtase dos sábios, era o desvario dos loucos que embotava sua mente em vez de elevá-la. Segundo a tradição budista, o jovem se deu conta do erro cometido ao ouvir um músico que ensinava a seu aprendiz os fundamentos da arte. Ele dizia que as cordas de um instrumento, se muito folgadas, não emitem um som harmonioso e, se muito esticadas, arrebentam. O príncipe percebeu que os extremos se parecem - nem a sensualidade desenfreada nem o ascetismo levam à libertação. O segredo está na moderação, no caminho do meio, expressão que é o alicerce de sua doutrina (veja quadro abaixo).
Sidarta voltou a se alimentar, aceitando uma porção de arroz e leite oferecida por uma jovem. Seus companheiros, decepcionados com o que consideravam uma fraqueza, o abandonaram. Sozinho novamente, ele rumou para Bodhgaya, região no norte da Índia. Ao pôr-do-sol, assumindo a postura de lótus, sentou-se sob uma figueira (a árvore Bodhi) para meditar. Seu propósito era alcançar a iluminação ou morrer. Para se concentrar, repetiu para si mesmo: "Não viva no passado, não sonhe com o futuro, fixe a mente no momento presente". Enquanto o príncipe permanecia imóvel, o deus hindu da morte, Mara, enviou um exército de demônios para destruí-lo, mas as setas por eles lançadas se transformaram em flores. Também surgiram lindas garotas para fazer com que caísse na tentação do desejo. Sakyamuni continuou absorto, ignorando os ataques. Finalmente, o deus do mal desistiu e, numa noite de lua cheia, Sidarta Gautama se tornou o Buda, palavra que em sânscrito quer dizer "o Iluminado", "aquele que despertou". Tinha 35 anos e dedicou o resto de sua vida a difundir o dharma para que outros seres humanos pudessem descobrir o caminho da iluminação. Sua religião se baseia na tolerância. Não se conformava com as restrições de castas impostas pelos brâmanes nem se prendia a livros sagrados. Costumava dizer: "Não se deve aceitar nada por ouvir falar, tampouco porque está nas escrituras".
Depois de uma intoxicação alimentar, Sakyamuni morreu aos 80 anos, alcançando o Parinirvana, o cessar da percepção e da sensação. O budismo, no entanto, se espraiou pelo mundo afora, instalando-se principalmente na China, no Japão, na Coréia e no sudeste da Ásia, tendo hoje mais de 200 milhões de adeptos. Supreendentemente, não vingou na Índia, seu berço, talvez devido às invasões islâmicas dos séculos 12 e 13. Também não se pode descartar a hipótese de que a estratificada sociedade local, dominada pelos brâmanes, tenha impedido o fortalecimento de uma religião mais igualitária. Seja qual for a explicação, nos demais países surgiram ramificações da doutrina original. Para algumas escolas, Sakyamuni não é Deus, mas um grande sábio. Outras o reverenciam como uma divindade. E há as mais diferentes imagens para representá-lo. Ora é um asceta magérrimo, ora é o jovem e belo Sidarta. E que dizer dos Budas gorduchos, sisudos ou risonhos que simbolizam a prosperidade? Tudo isso faz parte de uma doutrina tolerante e pluralista que parece um oásis de paz nesta época de ortodoxia e fundamentalismos.
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