(U.M.E.) DUAS IRMAS! (RC)


Moramos no Rio de Janeiro, no bairro do Leblon, onde ha’ um Morro, uma pedra, que se chama “Dois Irmaos”, muito apropriadamente, para o dia de hoje, já que estou mesmo no Leblon: hoje e' MEU ANIVERSARIO. Alias, NOSSO ANIVERSARIO: MEU E DE MINHA IRMA GEMEA.

Na minha familia inicial (chamo de “primeiro nucleo”) somos DUAS IRMAS, e gemeas.


Minha irma, sei, gostaria muito que lhe fizesse um POST homenageando-a. Mas ainda nao o fiz. Talvez pelo fato de que nao importa o que eu diga a ela, sempre que falo qualquer coisa, o “qualquer coisa” soa como uma “grande e perigosa coisa” que ha’ de explodir em poucos segundos.

Eu nunca sei qual foi a virgula, qual foi o ponto, o tom ou a letra que a incomodou.

Assim, nunca toco nesse assunto.

Entao, porque ele veio a tona neste instante? Bem, talvez porque seja nosso aniversario, hoje. Talvez porque enfim, tenha chegado ao Brasil, ao Leblon... e... enfim, possa ver os “Dois Irmaos” e minha irma.

Espero que ela possa aproveitar o tempo que estamos por aqui especialmente para curtir os sobrinhos – ainda que dessa vez, pela primeira vez - estejamos hospedados em Niteroi (cerca de 40 Km), na casa dos meus sogros, que encontram-se hospedados, por sua vez, na minha cunhada!

Espero tambem que tenha aproveitado o tempo que ficamos na Tailandia com minha mae (ela estava la’ conosco desde janeiro...) – com quem mora junto – para curtir a casa, as coisas do lar... o silencio as vezes (para mim, SEMPRE) necessario, etc.


Ela gosta de ressaltar o quanto fomos unidas e amigas na nossa infancia. E’ verdade. Durante a adolecencia, no entanto, vivemos momentos um pouco diferentes, com gostos e escolhas diferentes. Isso se acentuou ao longo dos anos, quando eu ja’ estava na Faculdade, quando entao ela e’ que “aproveitou a vida, namorando, curtindo balada e passeando bastante” – coisa que eu tinha feito quando estava no Colegial.

Acho que foi por isso que comecamos a ficar diferentes: quando eu ja’ tinha vivido minha adolescencia, digamos assim, e ja’ estava numa outra fase... e’ que ela foi viver a adolescencia dela... em escolhas e momentos absolutamente distintos, apos os 20 e poucos anos, eu diria.

O fato de sermos GEMEAS tambem foi um agravante, e nao um atenuante, como muitos podem pensar.

E’ justamente por serem “gemeas”, que as pessoas esperam que as DUAS IRMAS sejam IGUAIS, sintam igual, adoecam igual, etc. E isso NAO ACONTECE! Ao menos, na minha opiniao, nao deve mesmo acontecer! Mas no fundo, A VIDA SEMPRE COBROU ISSO DAS DUAS IRMAS! E isso nao foi bom... nao trouxe bons resultados.

Mas eu nao queria que ela me entendesse tao mal... tao diferentemente do que eu digo ou faco ou escrevo. Mas parece tarefa impossivel mudar isso. E confesso que agora, nem tenho mais vontade de tentar resolver isso. Fiz o possivel, fiz o que pude. Sinceramente (no sentido lato da palavra). Agora o que sinto e' uma triste iniquidade... uma especie de fraquesa preguicosa para lutar... para tentar resolver... pois penso que nao ha mais o que resolver... exceto aceitar que AS DUAS IRMAS, embora GEMEAS, sao diferentes, pensam diferente, se expressam diferente e se enxergam diferentes.

Mas aquela baixinha porreta que DEFENDIA A IRMA GEMEA MAIS VELHA COM UNHAS E DENTES POR TODA A VIDA; que batia nos meninos (e nas meninas) que incomodavam a IRMA MAIOR; que a segurava pela mao a todo o tempo e hora para que nao caisse; que lhe segurava pelas fraldas para que aprendesse a andar; a que traduzia-lhe as historias que tinha preguica de ler; a que a cobria todo e tempo com um cobertor ainda que curto; aquela que lhe tentou por todas (eu disse todas) as vias que conhecia e que dispunha mostrar-lhe todas as coisas boas que conhecia e em que acreditava; aquela menina que ainda jovem, continuava a cuidar dela, escondido, tantas vezes; aquela jovem que a apoiou todas as vezes que comecou uma Faculdade, pagando-lhe as inscricoes, comprando-lhe livros, sei la!... essa baixinha porreta, ainda existe, ainda que talvez para ela apenas nas lembrancas... nas doces lembrancas.

Se agora, quando velha e cansada nao pode mais fazer ou dar a IRMA MAIS VELHA, GEMEA, tudo aquilo que fizera quando crianca, menina e jovem, resta-lhe apenas pedir PERDAO e DIZER: SINTO MUITO, NAO SOU MAIS AQUELA MENINA, GAROTA OU JOVEM - embora continue baixinha e porreta. NAO POSSO MAIS SEGURAR-LHE A MAO, puxando-lhe para cima, nao posso mais bater nos meninos (e meninas) que a atormentam, nao posso mais traduzir-lhe os livros, nao posso mais mais nada. SINTO MUITO.

NO TEU ANIVERSARIO, A MINHA UNICA E GEMEA IRMA NADA TENHO PARA DAR, EXCETO AS MINHAS LAGRIMAS, QUE ORA SALTAM DOS MEUS OLHOS, COMO ESGUICHOS DE AGUA BURRIFANDO O JARDIM. Tambem e’ bom, porque choro silenciosamente (coisa que para mim e’ quase impossivel fazer – diga la’ meu marido – já que quando choro e’ com tanta dor que nao consigo conter o tremor e os urros de colera - como agora esta doendo), uma vez que escrevo essas linhas voltando justamente da casa de minha mae e irma, no Rio, onde vim sozinha para resolver algumas pendencias, num TAXI velho e sujo.

E’ uma noite escura e chuvosa, num incrivel engarrafamento na Lagoa Rodrigo de Freitas em direcao a Niteroi... onde deixei marido e filhos (a quem chamo de “novo nucleo”).

Ninguem pode me ver agora.

Ninguem pode ver os DOIS IRMAOS agora, encobertos pela chuva e pelo mal tem

Ninguem pode ver as DUAS IRMAS agora, encobertas pela angustia do desenlace provocado pelas escolhas e pelos caminhos da vida que foram tao divergentes que... me tornaram uma VELHA CANSADA.

Nunca serei amarga ou nefasta.

Nunca serei cinica ou dissimulada.

Nunca hesitarei em defende-la como dantes, se for preciso.

Vou chegar tarde em Niteroi. Ainda estou no engarrafmento da Lagoa. Precisei esperar mais de uma hora pelo taxi que me conduz de volta.

Precisarei esperar muito mais para ver o dia amanhecer, o sol reaparecer e os DOIS IRMAOS voltarem a registrar sua beleza de Cartao Postal, sua forca, tonacidade, e grandiosidade, como as DUAS IRMAS.



A MINHA IRMA GEMEA, DESEJO UM FELIZ ANIVERSARIO, UM NOVO ANO, UM NOVO RECOMECO, UMA NOVA ETAPA, REPLETO DE DIAS DE ALEGRIA, DE AMOR, DE PAZ, SAUDE DE ESPIRITO E DE CORPO, PACIENCIA, REALIZACOES POSSIVEIS e CORAGEM, MUITA CORAGEM.


SEJA FELIZ!
(RC)

7 comentários

  1. Oi, Renata.
    Que texto lindo!
    Se eu fosse sua irmã, a abraçaria apertado, choraria muito junto com você e todos os contratempos desapareceriam. Tenho certeza de que você é ótima irmã.
    Feliz aniversário pra você, e que bom estar no Brasil. E para sua irmã, junto a você, muitas felicidades e que ela "abra o olho" e enxergue em volta.
    Beijos!

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  2. Que post contundente!
    Não sabia que estava no Brasil, e bem pertinho, em Niterói.
    Saudações aqui da Região dos Lagos, e espero que sua estadia tenha sido(ou esteja sendo) boa.
    Bjoss

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  3. Vim aqui pela primeira vez e prometo voltar, pis gostei do modo como escreve... Me fez pensar em muitas coisas, obrigada.
    lidiane andrade

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  4. Apenas acho que por mais que as diferenças existam, nada como uma conversa franca onde coloquem para fora as mágoas, os rancores, as decepções, as expectativas, as emoções.

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  5. Obrigada a todos que por aqui passaram e deixaram suas mensagens e enviaram-me emails.
    De fato AMO MINHA IRMA, SO' DESEJO COISAS BOAS E VIDA DE LUZ E PAZ PRA ELA, E ESPERO QUE ELA SEJA REALMENTE FELIZ.
    Mas... como sugere minha querida Prima... "conversar francamente" ja' foi feito "zilhoes de vezes" e nunca trouxe resultados positivos, e... permita-me, Prima, ainda dizer mais: em mim, juro, nao ha' magoas ou rancores... porque nao conheco esses sentimentos... mas decepcao sim... mas... como sempre digo... SO' DE DECEPCIONA QUEM SE ILUDE, e nesse ponto, nao me iludo mais... o que faz com que a decepcao tb nao exista mais...
    Ta' tudo calmo... tudo tranquilo... so' queria tentar dizer pra ela que AMO, e que ela pode acreditar nisso... se quiser...

    BJS MIL A TODOS!

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  6. Desculpe a falta de educação, fiquei tão tocada com o seu texto que esqueci de te dar os parabéns pelo seu aniversário.
    Bjss

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  7. Puxa, ainda não tinha lido esse texto... e esses "causos" familiares sempre são difíceis. A gente pode pedir perdão, pode conversar francamente, que se o outro não se abrir a esse pedido, a essa conversa... é quase em vão! Nem sei o que dizer... Mas, que o tempo possa fazer ela perceber e entender as coisas... =/ Vc já fez a sua parte! =)
    E FELIZ ANIVERSÁRIO atrasado pra caramba!!! rs
    Bjks!

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